sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um ano de desacertos

Um ano após a abertura deste espaço, posso afirmar que o saldo é francamente positivo. Quanto mais não seja, a escrita de opinião é no mínimo redentora e liberatória para quem a faz. Agradeço a todos os que perderam o seu precioso tempo a ler o que aqui se vai dizendo. perdoem-me aqueles a quem não consegui agradar e com quem não terei sido justo...

Isto posto, o assunto da semana é o chumbo de Nobre para Presidente da Assembleia da República. Nunca tinha acontecido na democracia portuguesa, e mesmo os mais fiéis seguidores e militantes do PSD concordarão que a justiça da sua não escolha é mais do que merecida. Passos Coelho podia ter evitado esta derrota. Derrota que aparece ainda antes de ter tomado posse como PM. Cedeu à demagogia de não quebrar uma suposta promessa pré-eleitoral. Espero que tenha aprendido com o nefasto erro e não ceda à tentação de impor medidas injustas só que porque não quer ficar mal na fotografia. Já agora, demagógico e populista é a fachada da viagem a Bruxelas em classe turística para poupar uns trocos. Ninguém se importaria que o nosso PM viajasse em 1ª classe. Há limites para tudo. Não sou daqueles que pensa que os mais altos cargos da nação, que nos representam enquanto eleitos, tenham que andar de transportes públicos. Corte-se onde se deve cortar de uma vez por todas. E não cedam a demagogias popularuchas que não interessam a ninguém.

Villas-Boas saiu do Porto a troco de 6 milhões de euros anuais. Eu também saía...

Platini disse que o FCP utilizou demasiados sul-americanos e poucos portugueses na final da Liga Europa. Só quero lembrar a esse francês chauvinista de trazer por casa, que o Inter de Milão que venceu a Champions no ano passado jogou a final sem nenhum italiano, e que o próprio Platini fez a sua carreira toda fora de França. E já agora aproveito para lhe lembrar que a sua selecção é feita de jogadores naturalizados e naturais de colónias francesas duvidosas... Lembro ainda a esse energúmeno que  se quiser fazer alguma coisa contra isso, que não ceda à chantagem dos milhões que rolam na UEFA e nas transferências milionárias a que assistimos todos os anos. Bastava querer, e contornar a lei Bosman seria fácil... mas aí, o desmiolado vómito já não chega a tanto... porque já não interessa. Mais uma vez o bom senso cai perante as evidências. É caso para dizer shut the fuck up...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Europa populista

A crise das dívidas soberanas da Europa – é curioso e tem piada chamar-se soberana à dívida e não aos países – desmascarou toda a farsa que esteve na origem da criação da moeda única (o Euro). Resumidamente, prometeu-se o enriquecimento súbito acompanhando o consequente desenvolvimento exponencial, uma moeda estável e taxas de juro sempre baixas, aumento de competividade e a possibilidade da conquista de mercados internacionais. O BCE garantiria a estabilidade dos preços e o famoso pacto de estabilidade impunha a regra dos 3% de máximo autorizado de défice público em relação ao PIB. Tudo isto, desacompanhado de um mecanismo de resolução de crises, confiando no princípio naif de que não há incumprimento nem resgate, deixando escancarada a porta a uma possível crise, que sem qualquer gestão ou controlo se tornaria incontrolável. Alie-se a isto a falta de uma política fiscal em comum e desequilíbrios macro económicos mais que evidentes entre os vários membros, mais um sistema bancário desregulado e temos nas mãos uma bolha prestes a rebentar.

O que começou por ser um problema dos privados, bancos e seguradoras - primeiro nos E.U.A. e que depois se alastrou à zona Euro, por tabela globalizada - rapidamente se transformou num problema dos Estados. A primeira resposta da UE para a crise foi o ‘salve-se quem puder’. Cada um resgataria os seus próprios bancos (BPN e BPP no caso português). Mais tarde, a segunda resposta, austeridade. Se tivessem criado o tal mecanismo de resgate para o sistema financeiro comum, a UE conseguiria limitar os danos aos privados e centrar-se na única crise orçamental que tinha pela frente: a Grécia. O principal erro foi considerar-se a dívida pública excessiva como principal problema, em vez de se ir ao cerne da questão, ou seja, os bancos insolventes e desregulados que estiveram na origem dessa crise. Veja-se como no plano da Troika para Portugal, 1/3 do dinheiro que nos vão emprestar servirá para recapitalizar o sistema bancário. Enquanto não se separar a dívida nacional do sistema financeiro, a crise europeia manter-se-á até o default em série dos países membros se tornar incontornável. Se não se reconhecer isto de uma vez por todas, se não se disser aos privados que o risco é por conta deles, se não se regular e reordenar o sistema bancário e financeiro, então a união monetária está condenada ao fracasso. Pelo menos em relação aos mais pequenos, aliás como é normal.

As reacções à austeridade estão aí, grupos anárquicos, extremistas e revolucionários. Acampamentos de protesto. Movimentos nas redes sociais e afins. Corrupção na política. E depois... violência, racismo, xenofobia e populismo, sobretudo populismo. Por toda a Europa podemos assistir a este tipo de movimentos. E por toda a Europa a extrema direita ganha adeptos e deputados. O populismo é a arma de mais fácil arremesso como resposta ao dramatismo actual, ‘o medo colectivo’, ‘a nossa protecção’, ‘a invasão da nossa terra’. A modernidade actual, consumista e egoísta, é intrinsecamente antidemocrática. Os grandes grupos de interesses pessoais que emergem na cena política recorrem frequentemente ao populismo, revelando uma nítida impaciência em relação à democracia, que exige consenso e compromisso. O populismo exige um bode expiatório. A suspensão do Acordo de Schengen na Dinamarca, na Itália de Berlusconi o ‘inimigo’ são os juízes, os comunistas e os imigrantes refugiados africanos que se deixam morrer no mar alto, para a Liga do Norte são os habitantes preguiçosos do sul, para a direita húngara coligada com a extrema direita são os ciganos e os intelectuais, para a direita francesa de Sarkozy e Le Pen são os ciganos, os imigrantes e os jovens suburbanos, na Escócia, na Bélgica e na Espanha temos os separatistas...

Desde o nazismo à Jugoslávia não faltam exemplos no século XX... A Nova Ordem Mundial vai nascer ainda neste século. Temo que a sua génese possa ser muito violenta.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Até sempre...

O dia acordou cinzento... o dia do teu funeral...

Certo dia conheci um Amigo. E que fazia questão de me tratar por Amigo. Um Amigo que encarava a vida de frente,  sem nunca recear o que quer que fosse. Deu num excelente Advogado. Encarava a profissão da mesma forma que encarava a vida. Pelos cornos! Mas a vida passou-lhe uma rasteira. Tirou-lhe a felicidade de viver que contagiava as paredes lá de casa. Era demasiado feliz! Mas nunca se esqueceu das pessoas que amava. Até ao último suspiro... Trazia-as no coração. E isso, nunca deixou que ninguém lhe roubasse.

Meu amigo: eras alegria em todos os momentos. Agradeço-te todos aqueles que passei contigo. Quantas vezes terás fitado a paisagem com a agonia e o desespero dos condenados. És como a nostalgia de quem chega a casa após uma longa viagem. Sei que nunca te intimidaste, apenas tinhas saudades daquilo que já não podias ver. Eu tenho saudades daquilo que já não veremos juntos. Partes agora, deixando para trás um sofrimento atroz que não merecias. Dizem que a vida continua... mas não continua igual...
Deixaste uma carta a Deus que eu agora Lhe vou enviar registada e com aviso de recepção... Até sempre meu Amigo...


"Carta a Deus
No meio de tudo (ou talvez do nada!) pergunto onde estás, onde estiveste, qual o motivo para não me teres ouvido ou simplesmente porque não me ajudas a recuperar o que foi perdido. Lá no fundo, mas bem lá no fundo, eu sei que estás comigo, mas, para meu bem, não podes satisfazer todos os meus sonhos, os meus desejos. Sei que não podes pôr no meu caminho o que eu queria e quem eu queria;

Estou perdido e sei que o sabes…e como o sabes tão bem.

Terei o que mereci? Será que fiz para o merecer? Será que assim teve de ser? Não quero que me respondas, mas se consegues acompanhar a leitura de tudo isto ao som do teclado do computador, então pensa comigo: se eu só queria ser feliz, porque não me deixas ser? Porque estás a pôr uma pedra no meu caminho? Não faças mais…não deixes que me continuem a magoar com a agressividade da voz e com os fragmentos dos momentos. Dá-me força e alma; dá-me um corpo coerente e uma mente sã; dá-me o cheiro dos lírios e o dom da beleza. 
Não sou exemplo pelo que faço ou pelo que sigo, pelo que idealizo ou pelo que projecto, mas sou exemplo pelo coração que me deste e que me ensinaste a construir: sou exemplo pela força que transmito a quem precisa, pelas vezes que afago as palavras dos momentos menos bons, sou exemplo pelo raciocínio de amor.
Sabes que não sou o mesmo. Sabes que sofro e que me magoam. Sabes que tento ser forte, veloz e autónomo…mas dentro de tudo isto impera a fragilidade dos momentos e a incongruência do meu entendimento.
Peço-te, mais uma vez, que me devolvas a forma de gostar e de admirar. Quero voltar a admirar a arte de viver, cada momento bom da vida, cada conquista, cada desafio, cada oportunidade. Dá-me luz, muita luz, para que possa iluminar o rosto de quem amo.
Faz do meu ser um exemplo de amor. Faz de mim um instrumento de paz. Faz de mim a conquista, para que a dúvida nunca me guie.
Mesmo sem endereço, envio-te estas palavras e estes desejos. Ajuda-me por favor, não aguento mais.
Abraça-me sem o toque…"



terça-feira, 7 de junho de 2011

Um memorando à medida

O Povo votou em massa no memorando da Troika (porque é esse que tem que ser executado), e mesmo à medida do programa do PSD, como o próprio Passos Coelho referiu. E bem. Se há coisa de que não se pode acusar o novo Primeiro-Ministro é de esconder o jogo, portanto, quem votou nele não poderá queixar-se mais tarde de ter sido enganado.
E Passos Coelho já avisou que o programa da Troika é curto (!) e o novo governo quer ir mais além. Desde as privatizações mais díspares e disparatadas como as Águas de Portugal, a RTP, a CGD, a REN, aos cortes de um terço no financiamento da saúde e na educação (pondo em causa o SNS, a Escola Pública e o próprio Estado Social - são milhões em caixa se os privados lhes puderem deitar uma mãozinha), desviando assim fundos para a recapitalização da banca, a drástica redução da taxa social única, destruindo a sustentabilidade da Segurança Social e o consequente aumento do IVA, até à redução dos salários e ao despedimento facilitado, tudo isto é o que aí vem - memorando da Troika mais programa do PSD. Não é de estranhar pois, o apoio em plena campanha do 'mecenas' Belmiro de Azevedo. Aliás, e uma vez mais afirmo, honra lhe seja feita, Passos Coelho não escondeu nada, muito do que está no seu programa, estava na sua proposta de revisão constitucional. Tenho pena que a campanha não esclarecesse nem discutisse nada disto. Foi contra isto que lutei, do alto da minha insignificância. Resta um consolo: a Constituição só pode ser alterada com dois terços de maioria no Parlamento.

Não há dúvida que estas eleições foram principalmente contra Sócrates. Eu compreendo, ele foi o rosto das dificuldades económicas e do pedido de ajuda externa... Aliás, nunca vi tanta gente desesperada, chegando mesmo ao insulto fácil, quando as sondagens davam um empate técnico entre PS e PSD, sem qualquer pudor ou respeito por opiniões alheias. Devo dizer que este novo tipo de sondagem diária foi fundamental na vitória do PSD. O voto contra Sócrates, transformou-se em voto útil no PSD. A viragem à esquerda do PS, em resposta à ultra liberal do PSD, capitalizou votos do suicida BE, o centro não estava ocupado por ninguém, o que não se via desde os tempos do PREC, e as massas que geralmente deambulam nesse espaço preferiram livrar-se de Sócrates.
Sócrates que cometeu um enorme erro, do discurso determinado, evoluiu para o determinista e irrealista, e daí para a teimosia. Foi enganado por Passos Coelho, que mentiu aquando do chumbo do PEC IV. Passos disse que iria chumbar o PEC IV porque não tinha sido informado de nada. Soube-se mais tarde que se reuniu com Sócrates no dia anterior... Passos tirou-lhe o tapete e Cavaco deu-lhe o último empurrão. Demitiu-se no passado domingo, num discurso sério e dignificante, para ele e para a democracia em Portugal. A história se encarregará de o julgar.

Estou muito curioso e apreensivo com o que aí vem, ao contrário dos apaniguados de Passos Coelho, que no dia das eleições diziam á boca cheia que no dia a seguir tudo iria ser melhor. Como se o FMI já cá não estivesse.
Ainda assim, desejo sorte a Passos Coelho, pelo bem do meu país.